“Manequins de cor negra eram poucos”, Mariama Barbosa (Apresentadora, Relações Públicas e Blogger)
“Promover a Tolerância, a inclusão, a unidade e o respeito pela diversidade no contexto do combate à discriminação racial” é o tema de 2018 do Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial
Apesar de ser natural da Guiné, vim para Portugal aos 5 anos, os meus pais queriam o melhor para mim e aqui as escolas eram mais organizadas. A Moda sempre esteve presente na minha vida, tive um tio que foi manequim e que consumia muitas revistas de Moda, a maior parte delas, estrangeiras. Eu, como curiosa que sou, sempre que conseguia, não perdia a oportunidade de dar uma espreitadela para conhecer as novas tendências. A Moda sempre me apaixonou! Trabalhei em vários sítios para me poder sustentar mas houve um dia que conheci o talentoso Dino Alves, a partir daí, foi uma bola de neve e a Moda ganhou um peso mais marcante e efectivo na minha vida. É certo que a discriminação (infelizmente) está em todo o lado. No mundo da Moda, a discriminação existe de várias formas: sexo, idade, peso, cor, estado civil… Embora presentemente bem menos vincada do que quando comecei há quase 20 anos.
Os negros contavam-se pelos dedos de duas mãos, eram realmente muito poucos os manequins de cor negra. No entanto, quando comecei a trabalhar e até aos dias de hoje, nunca me senti discriminada. Sempre tive a certeza de que quando fui avaliada, foi pelo meu desempenho e não por qualquer outra das minhas características. Sempre fui uma pessoa descontraída – sou negra, sou mulher, sou mãe solteira, mas acima de tudo, sou um ser humano, como somos todos.
Querendo dizer que ninguém é mais que ninguém, digo frequentemente: “Todos fazemos cocó!”. É tão simples quanto isto! Nunca me vou esquecer que foi o meu Tio Rodolfo que me ensinou a aceitar e assumir as nossas diferenças. Naquela época, no início dos anos 90, era frequentemente ofendido verbalmente e chegavam a atirar-lhe pedrinhas na rua, porque era Gay e não o escondia. Isso marcou-me. Que direito tinham de lhe fazer isso? O meu tio sempre foi educado! E não é o que interessa? É que apesar de saber que seria o caminho mais difícil, sempre andou de cabeça erguida e orgulhoso da pessoa que era. Um herói para mim! Ainda que a discriminação possa assumir várias formas, dependendo da área profissional, há algumas que são transversais. Irrita-me muito, por exemplo, que a mulher ainda seja tratada como um objecto, que haja desigualdade salarial, que viva sempre em desvantagem por e com receio de engravidar, etc. A discriminação é um jogo perigoso de egos que jamais fará sentido. Devemos tentar combatê-la, promovendo a igualdade. Seremos todos mais felizes. Je te jure!
Testemunho publicado na revista Cais, na edição de Março que tive o prazer de coordenar e que foi inspirada no Dia 21 março, Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial
Foto: Instagram de Mariama Barbosa