Ricardo Pereira

Ricardo Pereira: “A alegria da família que construímos, o carinho com que nos olhamos, é muito importante”

Ricardo Pereira, 39 anos, é o rosto de dezenas de nomes e personagens a quem emprestou o seu talento. O primeiro português a ser protagonista de uma novela brasileira, no Brasil, é neste momento o misterioso Gonçalo que nos entra pela casa adentro em Alma e Coração (novela da SIC). Uma conversa com o ator, mas também com o pai e o marido apaixonado pela família feliz que tem sabido construir, paralelamente ao percurso profissional.

 

Alma e Coração – Fala-nos da tua personagem “misteriosa”, o Gonçalo. 

É uma personagem muito interessante porque começa a história com aqueles quatro amigos, de há 20 anos atrás. Vê-se logo nele uma vontade muito grande de querer gozar a vida, um homem de grandes experiências. Após esta fase, vai para os Estados Unidos e faz fortuna de uma forma muito misteriosa… dizem que a fortuna deve-se ao facto de ter vendido uma empresa, mas há sempre mais do que isso. É um homem que, por detrás daquilo que aparenta ser, tem sempre mistério. Volta com uma capacidade sedutora, de negociação, um “à vontade” perante a vida – quer pessoalmente, quer financeiramente. E volta para desestabilizar o equilíbrio da história da novela. É um homem carregado de ambição, e com uma sede muito importante de tomar aquilo que é dele, coisa que, naquela altura, ele não conseguia. É uma personagem muito rica. Esta é uma novela que aborda, não só temáticas atuais mas também alguns assuntos que têm que ser relembrados. Carregada de excelentes atores e atrizes, é um prazer estar de volta à dramaturgia e ficção da SIC num grupo de amigos e colegas que são muito importantes na minha história como ator. Estou feliz e tenho a certeza que vai ser mais uma novela que, sem dúvida, vai entrar e agradar os espetadores todos os dias.

Brasil: O que era suposto ser uma viagem de 6 meses, no Brasil, transformou-se numa temporada de quase 15 anos. Mas a vida de emigrante está cheia de bons e menos bons momentos…

Estou sempre a dizer que foi uma aventura que começou apenas com um convite. Na altura, eu trabalhava como ator em Portugal, e recebi um convite para passar seis meses a fazer uma novela, e desde aí já lá vão bastantes anos com uma carreira consolidada, com muitos trabalhos em televisão, em cinema, em teatro. Tornou-se numa carreira muito importante, com muitas experiências muito boas, e juntamente com Portugal, são os dois países nos quais tenho a carreira mais bem consolidada. Fico muito feliz com este percurso, com todos os trabalhos que realizei, de grandes expetativas, de grandes superações e conquistas. O Brasil e Portugal têm sempre um lugar muito bom e carinhoso no meu coração.

Viver longe de casa, longe das pessoas com quem crescemos, é o que mais me toca quando estou no Brasil. Claro que já criei amizades e ligações familiares no Brasil. O facto de a minha mulher ter embarcado nesta aventura comigo foi também espectacular, e depois tivemos a família que acabamos por criar e torna tudo mais aconchegante. Ter a minha mulher e os meus filhos por perto torna tudo mais agradável porque nada na vida faz sentido sem termos os que mais amamos por perto. Não houve momentos menos bons: há uma certa nostalgia e saudade que, hoje em dia, através das várias plataformas de comunicação e das viagens mais facilitadas, conseguimos mitigar. A saudade, uma palavra tão característica dos portugueses, é o que mais nos toca quando estamos distantes de pessoas que amamos, ou de lugares que são da nossa génese. Resumindo, estamos completamente adaptados ao Brasil, completamente em paz com esse facto, felizes por termos criado uma harmonia familiar e muito contente também pela carreira que construí.

Francisca – é uma história de amor. Na tua opinião, qual a receita para uma relação a dois, duradoura e feliz?

A Francisca é o amor da minha vida… tão simples quanto isto. Eu sou apaixonado. Acho que nós construímos uma relação de amor, de compreensão, de carinho. E, para mim, é particularmente belo e bom falar da minha mulher porque falo com a maior das ternuras possíveis. É uma mulher com quem tenho andado a caminhar de mão dada pela vida, sempre a ajudar-nos mutuamente, a compreendermos muito bem as dificuldades que cada um tem, o que cada um pretende alcançar.

A alegria da família que construímos, o carinho com que nos olhamos e cuidamos é muito importante. Eu acho que não há uma regra para as coisas darem certo ou não, as coisas vão sendo feitas. Nós temos os nossos acertos, as nossas falhas como qualquer outro casal, mas procuramos lidar de uma forma mais calma, mais compreensível, mais pacata. Não nos enervamos muito com as questões que vão surgindo na vida. O essencial é ter sempre noção do respeito e da individualidade, e ter muito presente (e crucial) a cedência.

Há uns meses foste convidado para um programa da Globo, o “Tamanho Família”. Nesse programa que tive oportunidade de espreitar, o Tony Ramos dizia, acerca de ti: “O seu negócio da China sempre foi… fazer amigos”. É um dom? Fizeste grandes amigos no Brasil? 

O Tony Ramos é um dos meus grandes amigos no Brasil. E posso contar uma história de amizade muito bonita com o próprio Tony. Da primeira vez que eu fui fazer uma novela ao Brasil, o Tony não me conhecia. Foi a primeira vez que uma novela brasileira não tinha um brasileiro como protagonista. Eu fui o primeiro a fazê-lo. E o Tony foi questionado, num programa de rádio, sobre qual era a sua opinião desta aposta num protagonista estrangeiro, pela primeira vez em 50 anos de história. Ele respondeu: “Eu não conheço o Ricardo, mas a primeira coisa que quero fazer é dar-lhe as boas vindas e recebê-lo da melhor maneira e com todo o carinho, e que seja bem sucedido.”

Acho que isso diz muito do próprio Tony, que é uma pessoa com um carácter, uma personalidade, um carisma, e uma capacidade altruísta de amar e de abraçar o próximo. É uma das pessoas com quem desenvolvi uma relação de amizade, no Brasil. Só trabalhamos numa novela juntos, a novela “A Regra do Jogo”, de José Emanuel Carneiro. Mas é uma pessoa com quem tenho uma amizade muito forte, de respeito, de admiração. Olho para a sua carreira como uma carreira a seguir. Espero um dia poder olhar para a minha carreira e perceber que tive uma carreira (pelo menos) parecida com a do Tony, ao nível da entrega, do profissionalismo, do carácter. Ele diz uma grande verdade, que eu sou uma pessoa do mundo, dos amigos, do ser humano.

Eu gosto muito de ouvir os outros, de aprender com eles, e por onde vou passando procuro conhecer gente, trocar e crescer com experiências, e fazer amigos para a vida. Tenho muitos amigos no Brasil, não dá para numerar, tenho família, tal como em Portugal. Guardo-os para a vida, e esta faz-se e é bem melhor com amigos por perto.

Fala-nos do Vicente. O teu filho mais velho (6 anos) está numa fase “pai”, como disseste no programa da Globo. 

Foi uma surpresa que me fizeram na rede Globo. Tanto o Vicente, como os meus filhos Francisca (4 anos) e Julieta (1 ano), os meus amigos de Portugal e do Brasil, os meus pais, a minha mulher… foi uma surpresa emocionante olhar para esta homenagem que a Globo decidiu fazer-me através da minha família. Deixou-me muito feliz. Acaba por ser um reconhecimento da minha trajectória dentro desta casa. Ao longo destes anos não só produzi trabalho como constituí família, casei, tive filhos… por isso o meu desenvolvimento pessoal acaba por ser paralelo ao meu desenvolvimento profissional e envolver tudo isto numa homenagem deixou-me muito emocionado.

O Vicente entusiasmou-me muito porque apareceu vestido de Virgílio, a minha última personagem da novela “Deus Salve o Rei”. Foi um sucesso estrondoso e ele adorava a personagem pelas suas roupas, espadas… então apareceu vestido de mini Virgílio e foi um sucesso. Além disso ele está numa fase em que me considera um grande amigo, um companheiro… é um pouco espelho de quem sou, pela sua simpatia, facilidade de se relacionar com o próximo. É sem dúvida um miúdo muito especial.

 

As eleições estão à porta no Brasil. A tua opinião sobre as atuais polémicas e votos para o Brasil…

Não me vou alongar no que respeita a questões políticas até porque não o faço publicamente, tem sido sempre uma prática minha, seja ela em que território. Guardo-a para mim e partilho-a apenas na minha intimidade. A única coisa que desejo é que sejam umas eleições onde se consiga ter a maior transparência possível, em que as pessoas que votam estejam plenas da sua decisão e que acima de tudo que o Brasil saia com força novamente pós estado eleitoral. O Brasil precisa de ser cuidado, abraçado e de ser o país maravilhoso que é. Se nos últimos tempos tem sido mais difícil, acho que está na altura de voltar a sorrir e ter essa alegria.

Próximos projectos Ricardo?

Além da participar na novela da SIC “Alma e Coração”, também estou a gravar três filmes: “De Perto ela não é Normal”, um filme de Susana Pires, a comédia “A minha Vida em Marte” com Mônica Martelli e Paulo Gustavo, gravado em Nova Iorque, e agora estou a fazer o “Aos nossos Filhos” com a minha conterrânea Maria Medeiros, que está a ser gravado no Brasil. Continuar a gravar o “E Especial”, um programa com uma longevidade e uma força muito características, com a minha querida Sofia Cerveira. No próximo ano, começo a preparar uma nova personagem para o meu próximo projecto na TV Globo e a segunda temporada do “Sem Cortes”, um programa de entrevistas que apresento para a Globo Internacional.

Estar de bem com a vida é…

Estar de bem com a vida é estar feliz, é sorrir ou tentar sorrir todos os dias e é essa forma de estar que, de alguma forma, nos faz levar a vida mais tranquilamente. Sempre com a ideia que, mesmo que haja alguma dificuldade com a qual nos deparemos irá ser ultrapassada.

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