Crónica de Magda Fernandes*
*Mulher, mãe, advogada. De Bem com a Vida.
Há uns dias atrás, circulou uma notícia relativa a um certo acidente ocorrido numa tourada em Coruche. Segundo nos relataram os meios de comunicação social, um sem número de forcados ficou lesionado, o cavaleiro também, e o pobre do cavalo, com uma fractura exposta, foi abatido.
Portanto, um cavaleiro que foge e deixa o cavalo a ser atacado ferozmente pelo touro: fim do cavalo é o abate. Fim do cavaleiro: palmas e palavras de pesar pelo pobre homem (já agora pobre desertor). Este mundo está para lá de podre.
Dizem que a tourada é tradição. Que é respeito pelo touro. Que é um belo espectáculo. Recordo-me de algumas tradições bem bonitas que acarretavam violar as escravas, matar os escravos, fazer sacrifícios humanos como dádivas a Deus. Podem chamá-lo de tradição. Podem aplaudir a coragem dos homens que enfrentam o touro, podem achar o cavalo uma raça lindíssima, mas para mim esta tradição já era. Ou melhor, já deveria ter ido. Aplaudo com animação todos os esforços que, numa sociedade com respeito pelos animais, se fazem para criminalizar quem os maltrata. Acho excelente. Os animais não são homens, certo. Mas a sua chacina e chacota serve para gáudio de alguns.
Sempre fui muito desfavorável a touradas e pouco me interessa uma tradição que passa por atiçar um bicho, obrigar outro a andar-lhe a fugir, com um sem número de atentos e sedentos membros do público a desejar ver sangue. Não gosto. Podem cair-me em cima. Até com uma lança ou como se chamará. Não gosto e angustia-me ver o touro a ser provocado, já enraivecido, o cavalo assustado, os forcados a colocar em risco a sua vida, o cavaleiro também, tudo para os aplausos do seguro e bem sentado público. Por mim, toureava-se já esta ignóbil tradição daqui para fora.